Avançar ou recuar?

Avançar ou recuar?

09/05/2023, 07:55:31 UTC
Yannick Schade

A identidade Europeia

Desde os tempos das tribos europeias nos tempos clássicos, a história
demonstra que face a uma crise, como é o caso de um conflito armado, as
alianças são uma resposta natural dos seres humanos. No entanto, acredito
ser necessário “cuidar” das nossas alianças, como é o caso da União Europeia
(UE) ou da NATO, mesmo em períodos calmos, para conseguirmos suportar
eventuais crises e assegurar que o espírito de união não se evapora e leva à
eventual dissolução das mesmas.

Uma história que me foi contada pelo meu pai na minha infância, e que
acredito comprovar o meu argumento anterior, é a dos povos germânicos
cerca de 9 d.C.. Nesta, diversas tribos germânicas uniram-se contra o inimigo
comum que eram as legiões romanas e derrotaram-nas decisivamente na
batalha de Teutoburgo. Tribos estas que tinham uma história rica de ódio e
combate entre si. No entanto, foi possível a Armínio, um líder da tribo
germânica dos Queruscos, juntar estas facções e desferir o golpe devastador
às tropas romanas, o que aniquilou três legiões romanas compostas por cerca
de 20.000 soldados e civis, impedindo assim a expansão do império Romano
para além do rio Reno.

No entanto, esta aliança foi temporária. Os romanos voltaram a atacar as
tribos e desta vez venceram, em parte devido às tensões internas da aliança
germânica e à baixa moral derivada das recentes derrotas. Por sorte, os
romanos não conseguiram usar esses fatores em seu proveito, criando um
impasse que levou os germanos a regressar ao status quo anterior de se
guerrearem entre si.

Nos tempos modernos, temos o exemplo da União Europeia que demonstra a
naturalidade que humanos têm em procurar grupos semelhantes para formar
uma aliança quando confrontados pela necessidade. É esta qualidade que nos
permitiu desde sempre sobreviver e evoluir, como demonstrado no parágrafo
anterior.

A UE teve na sua origem um objetivo diferente, mas um contexto semelhante,
já que mais recentemente se quis prevenir mais guerras depois de duas que
devastaram o continente Europeu, através da união das indústrias relevantes
para a área da defesa, enquanto na antiguidade se queria preparar para uma
guerra iminente.

Desde o ano passado que temos na Europa outra guerra, a da Ucrânia, que
alimentou o sentimento de união por todo o Continente, demonstrando assim
que o medo do conflito nos une e sempre uniu.

No entanto, é necessário garantir que estas alianças que nascem do medo,
não se deixem consumir pelo mesmo e que não as tenhamos como
garantidas. Se o Brexit nos demonstrou algo, é que tão rápido se constrói
como se desconstrói.

Seguem outros exemplos para demonstrar que a UE nem sempre é tão unida
como parece ser e é algo para o qual se tem de trabalhar, como foi o caso da
visita de Macron a XI Jinping, que no regresso declarou o risco de a Europa se
tornar vassala aos EUA
e da resposta do Primeiro Ministro Polaco na sua visita
a Washington, onde defende que ser aliado dos EUA não torna a Europa
vassala dos mesmos
.

Outros exemplos como a resposta à invasão Russa à Ucrânia na sua fase inicial,
onde países membros do Oeste da União estavam muito hesitantes em apoiar
a Ucrânia, enquanto que os países do Leste Europeu rapidamente ofereceram
apoio e por fim, nesta lista, mas, infelizmente, não na história de interesses
divergentes entre países europeus, temos o exemplo da Hungria que
recentemente renovou o contrato de importação de gás russo, apesar das
sanções implementadas pelo resto da União Europeia
.

Pretendo então demonstrar com estes exemplos, que é necessário melhorar o
espírito de entreajuda e a confiança entre países da União, ou corremos o
risco de a longo prazo ficarmos sem união pela qual lutar.

Para tal, é necessário a criação da identidade Europeia, através dos vários
eventos e ações financiados pelas várias instituições Europeias, a
comemoração de dias importantes para a Europa, como o dia 9 de Maio que
celebra a declaração de Schuman, a aposta e simplificação na participação do
programa Erasmus, a aposta na melhoria da oferta do Interrail, entre outros.

O projeto Europeu somos todos nós e só com o trabalho e carinho de cada um
de nós pelo mesmo, é que o mesmo pode crescer e evoluir, de forma a
assegurar-nos a todos a possibilidade de viver em liberdade, autonomia e de
acordo com os valores Europeus da defesa dos direitos humanos.

Artigo escrito por Yannick Schade, Secretário Geral do Volt Portugal, em 09 de Maio de 2023